GUIA DE FILM SWAP


 O film swap, ou troca de filmes, é um método fácil e experimental de se produzir múltiplas exposições em fotografia analógica.

 O processo é simples: uma pessoa fotografa um filme, rebobina e o envia para uma segunda pessoa fotografar por cima. Assim, as fotografias são criadas de maneira colaborativa, por duas ou mais pessoas, mesmo que fisicamente distantes. Uma vez que a visualização das imagens só é possível após a revelação, as imagens se sobrepõem “às cegas“, gerando resultados inesperados e surpreendentes.

 A técnica pode ser feita com qualquer câmera analógica, manual ou automática, de qualquer formato. E também funciona com todos os tipos de películas fotográficas. Abaixo apresentamos um pequeno guia de como realizar um film swap.

 Se ficar com alguma duvida, basta enviar uma mensagem pra gente!



                            1. CONVERSE COM SUA DUPLA

 Por se tratar de um processo experimental e imprevisível, uma troca de filmes pode levar à muitos lugares diferentes. As imagens fogem de nosso controle e criam relações inusitadas, retornando completamente transformadas; é comum inclusive que as pessoas não reconheçam suas próprias fotos.

 Assim, para que essa troca seja o mais proveitosa o possível, é fundamental que você converse bem com a sua dupla. Primeiro, vocês terão de decidir qual filme vão fotografar e como se dará o envio, recebimento, revelação e digitalização das imagens. No Deriva Cartográfica nós já cuidamos de todos esses processos para você.

 Em seguida, é importante combinarem se vocês seguirão algum norteador para esse trabalho. Por exemplo, há alguma técnica, temática ou processo que vocês desejam experimentar? Alguma inspiração ou busca que querem perseguir? Vocês seguirão alguma proposta visual ou conceitual?

 Isso não significa que uma troca de filmes necessariamente tenha de ser planejada. Muitas vezes não ter regra nenhuma é a opção mais potente. Mas pense que quanto mais você compartilhar os seus processos e reflexões com a sua dupla, mais proveitoso esse encontro será.
 


 2. CUIDADO AO CARREGAR O FILME                      


  Apesar de ser um procedimento corriqueiro, carregar o filme na câmera exige cuidado. Muitas vezes as películas não são engatadas de maneira correta e saem vazias (ou ficam emboladas lá dentro). Imagine fotografar 36 fotos para depois descobrir que o filme não engatou e as imagens nem existem? Para evitar isso, certifique-se que o filme está bem esticado ao carregá-lo na câmera.

  E depois de fechar a tampa, puxe um pouquinho a manivela como se fosse rebobinar o filme e verifique se há tensão. Se a manivela estiver solta, sem tensão, o filme não engatou. E quando você avançar as primeiras poses, cheque se a manivela gira, indicando que o filme realmente está avançando.

  Por último, se você ultrapassar 38 poses e a câmera continuar fotografando, é um sinal claro de que o filme não está engatado e que as suas fotografias não estão se efetivando. E se, depois de ter fotografado, você precisar abrir a câmera para conferir, nunca faça isso em um local iluminado. Busque o cômodo mais escuro e fechado que você puder, espere a noite chegar, desligue todas as luzes e se cubra com uma coberta ou tecido opaco. Assim você poderá tatear o seu filme e descobrir o que está acontecendo lá, sem expor ele à luz.
 


                                 3. MARQUE (OU NÃO) O FILME





 Antes de fechar a câmera, você terá de escolher se quer marcar o filme. Essa marcação serve para que a sua dupla possa carregar a película na mesma posição que você, fazendo com que as sobreposições saiam alinhadas. Nesse caso, vocês terão 36 (ou mais) fotografias individuais com proporção de 3:2, como acontece normalmente (com a diferença que as fotografias serão duplas exposições).

 Para fazer a marcação basta carregar o filme na câmera e, antes de fechar a tampa, desenhar com uma caneta permanente as linhas que sinalizam a cortina do obturador da câmera. Não tem problema nenhum riscar a própria película, pois esse pedaço já foi exposto à luz e não é utilizável. Se quiser dar um toque especial, você pode escrever ou desenhar algo para a sua dupla nessa marcação.

 Mas você também pode optar por não marcar a película. Nesse caso as fotos vão se sobrepor de maneira mais aleatória, engolindo o espaçamento entre os fotogramas. Algumas vezes as imagens se encavalam de tal maneira que não conseguimos saber onde começa ou termina cada fotografia. As imagens poderão ter proporções variadas, muitas vezes criando composições panorâmicas que se estendem em longas tiras da película fotográfica.

 Aqui no Deriva Cartográfica nós sempre incentivamos as pessoas a experimentarem ao menos uma troca de filmes sem marcação nenhuma. Isso adiciona ao processo uma imprevisibilidade especial, com as imagens escapando de seus contornos habituais. Ainda que isso diminua o controle sobre as imagens, criam-se possibilidades artísticas muito interessantes.
 


4. DOBRE O ISO!                                      

  Se você vai fazer um film swap entre duas pessoas, cada fotograma do filme será exposto à luz duas vezes: uma por você e outra pela sua dupla. Isso significa que se você não compensar o ISO as fotografias sairão super expostas e você provavelmente perderá imagens. Para fazer essa correção você deve dobrar o ISO na sua câmera. Por exemplo, se você vai fotografar um filme de ISO 400, configure a sua câmera para ISO 800. Se o filme é ISO 200, fotografe em ISO 400. E assim em diante. Fazendo isso, você irá cortar pela metade a quantidade de luz em cada exposição e a somatória das duas exposições levará a uma fotometria correta. Ah! Lembre-se que tanto você quanto a sua dupla devem dobrar o ISO da mesma maneira. E você não deve alterar o valor do ISO enquanto fotografa as poses do filme! 

 A conta também serve para trocas entre mais de duas pessoas. Se você está fazendo um film swap em 3 pessoas, dobre o ISO duas vezes. Por exemplo, um filme ISO 200 deverá ser fotografado em ISO 800 (200 x 2 = 400. 400 x 2 = 800). Se for fotografar em 4 pessoas, dobre o ISO 4 vezes. Ou seja, o filme ISO 200 seria fotografado em ISO 1.600. E por ai adiante.

 Por fim, se você usa um câmera automática que não permite regular o ISO ou a fotometria, você terá de modificar o código DX da bobina do filme. Esse artigo do Lab:Lab explica como fazer isso!

 No Deriva Cartográfica todos os filmeS são ISO 250, então nossos artista fotografaram como ISO 500.



 


                                         5. FOTOGRAFE!







 Uma troca de filmes segue os mesmos princípios de qualquer produção de duplas ou múltiplas exposições. Uma vez que você já dobrou o ISO, não é necessário fazer nenhuma compensação adicional de fotometria. Apenas tome cuidado para não subexpor ou superexpor demais a sua imagem.

 Além disso, é importante você se atentar às zonas de realce e sombra em cada composição que fizer. De maneira geral, áreas muito claras da sua fotografia irão dificultar a visualização da segunda exposição. Você pode “queimar“ demais a fotografia e “apagar” a exposição da sua dupla. Ao contrário, áreas muito escuras irão permitir que a segunda exposição surja de maneira mais predominante. Como não há muita luz ali, aquela região do filme foi pouco sensibilizada e poderá ser “ocupada” pela fotografia de sua dupla.

Pense a respeito: ao fazer uma fotografia, você expõe o filme à luz e sensibiliza os cristais de prata da película. Todo filme possui um limite de exposição, a partir do qual os cristais são totalmente saturados e resultam em uma foto estourada, com uma superexposição excessiva. Como você e sua dupla fotografam o mesmo filme, se você expor em demasia a película, quando sua dupla for fotografar os cristais de prata já estarão sensibilizados e as imagens que ela fotografar sequer aparecerão.


 Para ficar mais fácil, imagine uma fotografia de um descampado com o horizonte: o céu está estourado na metade superior e o chão está muito escuro na parte inferior. Quando a segunda pessoa fotografar, é possível que sua imagem nem seja visível na região em que temos o céu estourado. Já na parte inferior, com o solo subexposto, a imagem aparecerá de maneira pungente, ficando bem visível.

 Então é importante que você se atente às diferenças de fotometria e contraste dentro das imagens que for produzir. Fotografias com uma alta taxa de contraste determinam o que é visível e o que não é, criando silhuetas e formas que servirão de suporte para a exposição de sua dupla. Do mesmo modo, fotografias com uma iluminação muito uniforme e baixo contraste irão se sobrepor de maneira homogênea na imagem final.

 Os limites de exposição de um filme dependerão se sua latitude. Filmes com uma latitude maior terão uma capacidade melhor de registrar informações tanto em zonas muito claras quanto muito escuras. Por isso, se você não tem experiência com duplas exposições, recomendamos utilizar filmes preto e branco, de cinema ou outros filmes de boa latitude.



6. REBOBINE, PREPARE E ENVIE O FILME PARA SUA DUPLA    


 Ao terminar todas as fotografias, rebobine o filme com cuidado. Em câmeras manuais, se você sentir que a manivela não gira, não force (você pode acabar rasgando o filme). Em toda e qualquer situação, trate o filme com carinho.

 Após rebobinar, você ou sua dupla precisará retirar a ponta do filme para fora da bobina. Isso é necessário para que o filme possa ser engatado na câmera e utilizado novamente. Há 3 métodos básicos para fazer isso:


  1 - Você pode utilizar um film picker, ou puxador de filmes, um     acessório específico para isso.

  2 - Você pode utilizar uma tira molhada de filme (revelado ou       não) para recuperar a ponta. Algumas pessoas também utilizam fita   dupla face.

  3 - Se você usa uma câmera manual, pode parar de rebobinar o       filme antes que a ponta vá para dentro da bobina. É preciso estar   acostumado à câmera e prestar bastante atenção ao momento em que   a tensão da manivela diminui e ouvimos o som da película se         soltando.


 Esse vídeo do Câmera Velha demonstra todas esses procedimentos.

 Se você não se sentir seguro ou passar por dificuldades e tiver acesso à um laboratório fotográfico, leve o filme para que um profissional faça isso para você. O processo é super rápido.

 Com o filme pronto, basta enviar ou entregar o filme até a sua dupla.



            

                    7. REALIZANDO A SEGUNDA EXPOSIÇÃO

 


 A segunda pessoa que irá fotografar o filme deve seguir todas as etapas anteriores. É fundamental que ela também dobre o ISO em sua câmera e tome todos os cuidados na hora de carregar e rebobinar o filme. Se o filme foi marcado, ela deverá alinhar a marcação à cortina do obturador de sua câmera para garantir que as fotos sairão alinhadas. E também estar atenta às zonas de realce e sombra em suas imagens. A única diferença é que ela não precisará puxar a ponta do filme para fora outra vez.

 Não faz nenhuma diferença a ordem em que as pessoas fotografam.

 Terminou a segunda exposição? Agora é hora de revelar ou enviar para um laboratório fazer isso. No Deriva Cartográfica nós utilizamos os serviços do Lab:lab, que revela e digitaliza os nossos filmes com muito amor e qualidade. Segura a ansiedade que as imagens serão surpreendentes!



SUGESTÕES ADICIONAIS                             

 Aqui no Deriva Cartográfica nós fazemos duas propostas extras aos participantes:

   1 – Experimente criar alguns autorretratos!

 É muito potente experimentar um autorretrato em uma troca de filmes. Você nunca sabe o que vai acontecer com as imagens e tem a oportunidade de criar novas corporeidades e autorrepresentações. Além disso, ter um autorretrato seu é uma maneira maravilhosa de marcar a sua presença em nosso coletivo. Essa imagem com certeza será utilizada em nosso site, e nas divulgações e produtos que venhamos a fazer: publicações impressas, peças audiovisuais e exposições, dentre outros. Então se joga e bota o corpinho pra jogo!
  

  2 – As trocas entre você e a sua dupla não precisam se             limitar a filmes!

 Como você terá de enviar os filmes para a sua dupla, essa é uma oportunidade maravilhosa para trocar objetos. Você pode escrever uma carta à mão para a sua dupla, por exemplo. Contar um pouco da sua vida, do seu processo na feitura das imagens, dos sentimentos e reflexões que você teve enquanto fotografava. Nesse mundo digital, receber uma carta escrita à mão pode significar muito.

 Se quiser, você pode até enviar objetos para a sua dupla, junto com os filmes. Uma flor que você fotografou e que secou, uma página arrancada de um livro, uma pedrinha encontrada no caminho. Ou, quem sabe, um objeto que você guarda com muito carinho, que significa muito para você. Ou alguma coisa que dê uma pista sobre as imagens que você criou, que expande o exercício de imaginação das imagens.